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As isoflavonas da soja são compostos bioativos que têm sido estudados em todo o mundo. De particular interesse em relação à saúde humana, esses compostos bioativos são conhe

Soja, Isoflavonas e Hormônios Sexuais

As isoflavonas da soja são compostos bioativos que têm sido estudados em todo o mundo. De particular interesse em relação à saúde humana, esses compostos bioativos são conhecidos como fitoestrógenos, devido à sua atividade estrogênica. Isso significa que as isoflavonas são estruturalmente semelhantes aos estrogênios de mamíferos, mas com propriedades estrogênicas leves (menor afinidade pelo receptor estrogênico). Além disso, as isoflavonas também são consideradas uma subclasse de flavonóides; uma grande família de compostos sintetizados por plantas, que são conhecidos por suas propriedades antioxidantes. (1)

Definindo os compostos 

As isoflavonas estão presentes na soja na forma de glicosídeos (ligadas à molécula de açúcar) e são principalmente 3: genisteína (50%), daidzeína (40%) e gliciteína (10%). Deles, a genisteína é a mais potente moduladora dos receptores estrogênicos. Em particular, as isoflavonas têm uma alta afinidade pelo receptor β, enquanto o estrogênio (hormônio) tem afinidade similar pelos dois receptores (α e β) e maior capacidade de ligação. (3)

A diferença de ativação dos receptores, o que pode levar a efeitos diversos dependendo da composição do tecido, assim como a possibilidade de atuação como agonista ou antagonista, enquadra as isoflavonas na classe de moduladores seletivos dos receptores estrogênicos (SERM’s). É claro que o efeito não é comparável ao hormônio ou medicamento, mas isso complica o estudo de mecanismo de ação e enfraquece os estudos em animais. Por isso, devemos, ainda mais, avaliar o desfecho em estudos clínicos. Ainda, suspeita-se que o metabolismo da isoflavonas seja diferente entre as pessoas, pela microbiota intestinal, composição do tecido e polimorfismos genéticos. Por isso, deve-se ter muito cuidado com a análise dos estudos. (3)

Com relação ao teor de isoflavonas, nos alimentos de soja, uma porção (por exemplo, 200 ou 250 ml de leite de soja, 100 g de tofu, 30 g de soja) fornece aproximadamente 25 mg de isoflavonas. (1,2)

Benefícios e Malefícios

Devido à sua capacidade estrogênica e antioxidante (e outros mecanismos de ação), as isoflavonas têm sido muito estudadas acerca dos impactos à saúde.

A respeito dos benefícios, estão o alívio dos sintomas da menopausa, prevenção e tratamento de cânceres, doenças cardiovasculares, osteoporose, obesidade e diabetes. No entanto, a maioria dos estudos são inadequados, inconsistentes ou estatisticamente não significativos para apoiar os benefícios sugeridos do consumo de soja, exceto por alguns efeitos modestos, principalmente nos sintomas da menopausa. Porém, pelo baixo efeito e evidência, o consumo de soja não é preconizado como uma linha de tratamento para nenhuma dessas condições. (1,2,3)

Por outro lado, as maiores discussões a respeito do assunto são com relação aos efeitos adversos/maléficos e modulação hormonal, tanto na mulher, quanto no homem. E é sobre isso que vamos discutir. 

Hormônios e Fertilidade

Há uma grande preocupação dos homens quanto ao consumo de soja pela possível alteração dos níveis hormonais e posterior interferência no funcionamento normal dos órgãos e tecidos. No entanto, essa alegação provém de estudos “in vitro” e em animais (que não tem implicação prática, tanto pela alta dose normalmente usada quanto pelo metabolismo diferente) e alguns em humanos com metodologia fraca. 

A verdade é que as isoflavonas presentes na soja, até mesmo consumidas em doses mais altas que o habitual ou suplementadas, não são capazes de alterar os níveis dos hormônios reprodutivos em homens (testosterona, testosterona livre, SHBG, estradiol), com duas meta-análises mostrando essa evidência (4,5). Portanto, a partir desses resultados, é possível concluir também que não há riscos do desenvolvimento de ginecomastia pelo consumo de soja, a não ser que você consuma um caminhão de soja por dia (e não temos estudos pra isso kk). 

Além disso, a fertilidade (medida por parâmetros do sêmen, incluindo volume, concentração e contagem de espermatozóides e motilidade/viabilidade) não é alterada pelo consumo de soja e isoflavonas (2) 

No que se refere ao controle hormonal nas mulheres, os estudos também são escassos, fracos e com várias limitações. No geral, o consumo de soja e isoflavonas tem efeito insignificante na rede hormonal, na duração do ciclo menstrual e nos resultados de fertilidade. Então o consumo também é seguro para as mulheres. (2,6)

  1. Zaheer K, Humayoun Akhtar M. An updated review of dietary isoflavones: Nutrition, processing, bioavailability and impacts on human health. Crit Rev Food Sci Nutr. 2017;57(6):1280-1293. doi:10.1080/10408398.2014.989958

  2. Messina M, Mejia SB, Cassidy A, et al. Neither soyfoods nor isoflavones warrant classification as endocrine disruptors: a technical review of the observational and clinical data. Crit Rev Food Sci Nutr. 2022;62(21):5824-5885. doi:10.1080/10408398.2021.1895054

  3. Rietjens IMCM, Louisse J, Beekmann K. The potential health effects of dietary phytoestrogens. Br J Pharmacol. 2017;174(11):1263-1280. doi:10.1111/bph.13622

  4. Reed KE, Camargo J, Hamilton-Reeves J, Kurzer M, Messina M. Neither soy nor isoflavone intake affects male reproductive hormones: An expanded and updated meta-analysis of clinical studies. Reprod Toxicol. 2021;100:60-67. doi:10.1016/j.reprotox.2020.12.019

  5. Hamilton-Reeves JM, Vazquez G, Duval SJ, Phipps WR, Kurzer MS, Messina MJ. Clinical studies show no effects of soy protein or isoflavones on reproductive hormones in men: results of a meta-analysis. Fertil Steril. 2010;94(3):997-1007. doi:10.1016/j.fertnstert.2009.04.038

  6. Rizzo G, Feraco A, Storz MA, Lombardo M. The role of soy and soy isoflavones on women’s fertility and related outcomes: an update. J Nutr Sci. 2022;11:e17. Published 2022 Mar 7. doi:10.1017/jns.2022.15

  7. Hüser S, Guth S, Joost HG, et al. Effects of isoflavones on breast tissue and the thyroid hormone system in humans: a comprehensive safety evaluation. Arch Toxicol. 2018;92(9):2703-2748. doi:10.1007/s00204-018-2279-8

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