De fato, a glutamina é um aminoácido que tem se mostrado importante para a manutenção da barreira da mucosa intestinal, funcionando como provedor de energia e regulando a expressão de genes e proteínas envolvidas na proliferação, diferenciação e apoptose celular, turnover proteico e propriedade antioxidante. Mas devemos perguntar se realmente é efetiva pro desfecho/objetivo desejado, já que muitos estudos que relatam esses efeitos benéficos são feitos em animais e “in vitro”, e ainda os estudos feitos em humanos são muito variados em relação à metodologia e população estudada. Por exemplo, a glutamina não se mostrou efetiva para doenças inflamatórias intestinais, por mais que esse estado se caracterize por disfunção da barreira epitelial. Por outro lado, pode ser efetivo para pacientes críticos em condição hipercatabólica. (1,3,4,5)

Então vamos ao que interessa: A glutamina previne a o dano e permeabilidade intestinal induzida pelo exercício?

O aumento da permeabilidade intestinal e dano endotelial intestinal foram observados em uma variedade de distúrbios gastrointestinais e metabólicos. Da mesma forma, o exercício demonstrou causar danos intestinais e permeabilidade intestinal em participantes saudáveis, principalmente em situações de privação energética e jejum, alta intensidade do exercício e ambientes muito quentes. As evidências sugerem que, em resposta ao exercício, a ativação do sistema nervoso simpático causa hipoperfusão esplâncnica (vísceras) e hipóxia, pois o fluxo sanguíneo para o músculo esquelético, coração e pulmões é priorizado. A diminuição da perfusão intestinal contribui para a lesão epitelial e alterações nas junções apertadas endoteliais (“tight junctions”). Danos adicionais podem surgir como resultado da reperfusão pós-exercício, o que consequentemente aumenta a permeabilidade intestinal. O aumento da permeabilidade intestinal pode permitir a translocação de patógenos para a corrente sanguínea, desencadeando, por sua vez, respostas imunes pró-inflamatórias. Supõe-se que esta cascata pode aumentar os sintomas intestinais, prejudicar a absorção de nutrientes e estar relacionada a muitas condições clínicas.(2,6)

E a suplementação de glutamina pode ajudar?

Sim! A suplementação de glutamina teve um impacto positivo nos marcadores de dano intestinal e permeabilidade nos estudos de suplementação aguda e crônica, principalmente em corredores (8). Porém, na maioria, a suplementação foi com doses altas (bem maiores que 5 graminhas). Ainda, vale a pena notar que em um estudo separado, nenhum benefício adicional para medidas de permeabilidade foi encontrado com a adição de glutamina (0,6%) a uma bebida de carboidratos (6%) após 60 minutos de corrida. 

Portanto, a glutamina pode ser útil para preservar a função endotelial intestinal, principalmente em resposta a exercícios de alta intensidade no calor e se há a privação de consumo de carboidratos. No entanto, mais estudos são necessários para descobrir a dose e o protocolo adequados. (7,8)