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A microbiota pode influenciar na perda de peso!

As pesquisas demonstram que os microrganismos que constituem o microbioma intestinal desempenham um papel significativo na etiologia (causa) da obesidade, modulando a fome, a saciedade, a absorção nutricional, o metabolismo e a inflamação, entre outros mecanismos. (2)

Estudos e explicações…

A descoberta mais comum de estudos primários, que voltou a atenção dos pesquisadores para essa área, foi a observação de que indivíduos obesos tinham uma redução nos micróbios produtores de butirato (Bactérias positivas – Bacteroidetes) , juntamente com um aumento nos patógenos oportunistas e maléficos (Firmicutes).

Em seu artigo seminal, Turnbaugh et al. (2006) demonstraram pela primeira vez que a transferência do microbioma intestinal de camundongos com obesidade para camundongos livres de germes (desprovidos de qualquer bactéria) levou a uma massa gorda e peso corporal elevados. A partir dessa associação, numerosos estudos recentes mostraram que a alteração favorável do microbioma intestinal em roedores diminui a massa gorda e o peso corporal e melhora a sensibilidade à insulina. (2,3)

Além disso, em humanos, vem sendo demonstrado que a suplementação com probióticos (organismos/bactérias vivas benéficas), prebióticos (fibras que estimulam o crescimento de bactérias no intestino) ou simbióticos (prebióticos + probióticos) pode ser uma estratégia adicional ao exercício e dieta bem planejada, resultando em maior perda de peso, massa gorda e redução de circunferência de cintura. (4,5,6) 

Mecanismo…

Há algumas propostas sobre o mecanismo das propriedades anti-obesidade da modulação intestinal: alteração da absorção e excreção lipídica, melhora da sensibilidade à insulina, atenuação da fome pelo estímulo a liberação de peptídeos intestinais (GLP-1, PYY), e inibição da lipogênese por expressão maior de algumas vias celulares. (2,5)

Problemas…

Apesar de um amplo consenso de que a composição da microbiota intestinal está ligada ao equilíbrio energético, os mecanismos subjacentes a este processo permanecem indefinidos, uma vez que os estudos humanos têm sido principalmente epidemiológicos, não estabelecendo uma relação de causa-efeito, mas sim de associação. Ainda, apesar de estudos de intervenção controlada mostrarem benefícios, os resultados não são clinicamente relevantes (não mostram uma redução tão grande da massa gorda). 

As comunidades de microbiomas são redes muito complexas de bactérias, fungos, vírus e protozoários – todos estes componentes, juntamente com os seus metabolitos, podem contribuir para o fenótipo obeso, exercendo efeitos individuais ou sinérgicos. No geral, a maioria dos estudos até hoje demonstrou uma redução na diversidade do microbioma intestinal em indivíduos obesos, mas ainda há muito debate sobre a composição exata de uma microbiota “saudável ou obesa”. 

Além disso, há muita diversidade na metodologia de análise e intervenção nos estudos. Portanto, não sabemos como modular corretamente a microbiota (qual cepa específica para cada tipo de indivíduo, por quanto tempo deve-se suplementar, etc). Inclusive, parece que o transplante fecal é o método mais eficaz, pois assim transfere-se toda a composição microbiana. Suspeita-se que seja por esse motivo (dificuldades metodológicas) que os resultados dos estudos em humanos ainda são fracos. 

Até agora, podemos classificar esse assunto como incipiente, mas totalmente promissor. Até que saibamos o método exato, recorramos à modulação básica através da alimentação. Isso sim é totalmente comprovado: uma dieta com alta ingestão de frutas, legumes, verduras e grãos integrais, além de promover o emagrecimento, também contribui para uma microbiota saudável. Isso cria um ambiente sinérgico para facilitar o processo, na medida que a microbiota saudável irá promover um metabolismo mais favorável para a perda de gordura. 

Finalizo com a seguinte imagem explicativa, onde demonstra-se os efeitos do tipo de dieta na modulação intestinal e efeitos sobre o metabolismo e ganho de gordura (Fan e Pedersen, 2021): 

  1. Turnbaugh PJ, Ley RE, Mahowald MA, Magrini V, Mardis ER, Gordon JI. An obesity-associated gut microbiome with increased capacity for energy harvest. Nature. 2006;444:1027–31. https://doi.org/10.1038/nature05414.
  2. Vallianou, N., Stratigou, T., Christodoulatos, G. S., & Dalamaga, M. (2019). Understanding the Role of the Gut Microbiome and Microbial Metabolites in Obesity and Obesity-Associated Metabolic Disorders: Current Evidence and Perspectives. Current obesity reports, 8(3), 317–332. https://doi.org/10.1007/s13679-019-00352-2
  3. Santos-Paulo, S., Costello, S. P., Forster, S. C., Travis, S. P., & Bryant, R. V. (2022). The gut microbiota as a therapeutic target for obesity: a scoping review. Nutrition research reviews, 35(2), 207–220. https://doi.org/10.1017/S0954422421000160
  4. Peckmezian, T., Garcia-Larsen, V., Wilkins, K., Mosli, R. H., BinDhim, N. F., John, G. K., Yasir, M., Azhar, E. I., Mullin, G. E., & Alqahtani, S. A. (2022). Microbiome-Targeted Therapies as an Adjunct to Traditional Weight Loss Interventions: A Systematic Review and Meta-Analysis. Diabetes, metabolic syndrome and obesity : targets and therapy, 15, 3777–3798. https://doi.org/10.2147/DMSO.S378396
  5. Musazadeh, V., Mohammadi Anilou, M., Vajdi, M., Karimi, A., Sedgh Ahrabi, S., & Dehghan, P. (2023). Effects of synbiotics supplementation on anthropometric and lipid profile parameters: Finding from an umbrella meta-analysis. Frontiers in nutrition, 10, 1121541. https://doi.org/10.3389/fnut.2023.1121541
  6. Crovesy, L., Ostrowski, M., Ferreira, D. M. T. P., Rosado, E. L., & Soares-Mota, M. (2017). Effect of Lactobacillus on body weight and body fat in overweight subjects: a systematic review of randomized controlled clinical trials. International journal of obesity (2005), 41(11), 1607–1614. https://doi.org/10.1038/ijo.2017.161
  7. Fan, Y., & Pedersen, O. (2021). Gut microbiota in human metabolic health and disease. Nature reviews. Microbiology, 19(1), 55–71. https://doi.org/10.1038/s41579-020-0433-9

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