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O equilíbrio entre o gasto energético e a ingestão energética determina, em última análise, o peso corporal. A taxa metabólica de repouso é o principal componente (50-80%) do gasto diário total em um ser humano adulto. Assim, mesmo pequenas nessa taxa de repouso, se não forem compensadas por 

Por que engordamos no frio?

O equilíbrio entre o gasto energético e a ingestão energética determina, em última análise, o peso corporal. A taxa metabólica de repouso é o principal componente (50-80%) do gasto diário total em um ser humano adulto. Assim, mesmo pequenas nessa taxa de repouso, se não forem compensadas por mudanças na ingestão alimentar, podem implicar em efeitos a longo prazo na composição corporal.

O gasto de repouso também pode se adaptar às mudanças na temperatura ambiente. Em temperaturas mais frias (inverno), a taxa aumenta para ajudar a manter uma temperatura corporal central estável, servindo como fonte de produção de calor para contrabalançar a perda de calor. Este componente adaptativo é definido como termogênese induzida pelo frio. (2) 

Por sua vez, essa termogênese pode acontecer por dois principais mecanismos: com tremores (ST) ou sem tremores (NST). (1)

A termogênese com tremores é definida como contrações musculares involuntárias, enquanto a termogênese sem tremores acontece principalmente pela ativação do tecido adiposo marrom (BAT). Dentro dessa ativação do BAT, o “vazamento de prótons” mitocondriais é o principal responsável pela geração de calor e aumento do gasto calórico. Resumidamente, o vazamento de prótons mitocondrial é a permeabilidade passiva de prótons através da membrana mitocondrial interna, resultando em geração de calor da síntese incompleta de ATP. Ou seja, o mecanismo básico de produção de moléculas de energia no nosso corpo (produção de ATP mitocondrial) é ineficiente no BAT, fazendo com que essa energia seja “desperdiçada” na forma de calor.

Bom, agora entendemos por que gastamos mais energia no inverno. Mas a pergunta que fica é: esse gasto é tão elevado a ponto de interferir no nosso balanço energético e composição corporal? E ainda, esse aumento do gasto não é compensado pela alimentação?

Embora pareça haver um aumento do gasto com a exposição ao frio em humanos, estudos relativos a variações sazonais na temperatura ambiente mostraram que o peso corporal aumenta no inverno. Ou seja, as pessoas tendem a engordar no inverno. (3,4)

A explicação é que o gasto ainda continua sendo pequeno, demonstrado principalmente em estudos controlados e agudos.

Normalmente, esses estudos incluíram participantes relativamente saudáveis que permaneceram em uma câmara respiratória por 2,5 a 84 horas, seguindo um cronograma definido de atividades, vestindo roupas fixas e consumindo refeições pré determinadas em duas temperaturas diferentes. Esses estudos se concentraram principalmente em medir as mudanças no gasto energético durante a alimentação dos participantes no balanço energético para atenuar os efeitos da termogênese induzida pela dieta. Um dos primeiros desses estudos foi realizado por Dauncey em 1981, no qual nove mulheres foram expostas a 28 ou 22°C em uma câmara respiratória por 30 horas enquanto eram alimentadas com um número predeterminado de calorias. O gasto médio foi 7% maior a 22°C em comparação com 28°C.

No geral, considerando a maioria dos estudos disponíveis, temos aumentos de gasto energético de 0 a 7%, com um aumento médio de 4,3% e absoluto de 430 kJ/dia (~100kcal/dia). 

Temos que perceber que esses estudos controlados não levam em conta compensações feitas por nós. Por exemplo, no frio nos agasalhamos, fazendo com que o gasto para a produção de calor pelo nosso corpo seja menor. Então pode-se supor um gasto ainda menor. 

Então o gasto é pequeno, mas o mais relevante é que ainda compensamos esse gasto com maior ingestão de calorias e menor movimentação (atividade física e exercício). 

No frio tendemos a comer mais e praticar menos exercício! 

A diminuição da atividade física (movimentos diários) e exercício físico (atividade planejada) é óbvia. A nossa motivação diminui muito no frio. Mas e com relação ao apetite, por que comemos mais?

O principal mecanismo pelo qual isto ocorre é a diminuição dos níveis de leptina, comprovado por estudos de exposição ao frio em animais e humanos. Isso implica em diminuição da saciedade e aumento do desejo de comer, facilitando um aumento na ingestão calórica. (1)

Portanto, resumindo, temos que o aumento de gasto energético é pequeno no frio, porém considerável, mas que, apesar disso, este fato é compensado pela maior ingestão calórica e diminuição da atividade física. Isso implica, muitas vezes, em ganho de peso no inverno. 

Considerando isso, para quem deseja emagrecer e manter o percentual de gordura, seria interessante, nessa fase, manter o máximo a saciedade através de fontes proteicas, fibras e ingestão de água. Ainda, podemos aproveitar o momento para comer alimentos quentes (sopas, caldos) e chás (gengibre e canela com ervas). Considerando um praticante de musculação, eu considero esse um momento válido para fazer um “bulking”, abrindo maior margem para ingestão calórica, em uma fase de construção do físico e lapidação dos pontos fracos. 

Abraços,

Vini 

 
  1. McInnis, K., Haman, F., & Doucet, É. (2020). Humans in the cold: Regulating energy balance. Obesity reviews : an official journal of the International Association for the Study of Obesity, 21(3), e12978. https://doi.org/10.1111/obr.12978 
  2. Brychta, R. J., & Chen, K. Y. (2017). Cold-induced thermogenesis in humans. European journal of clinical nutrition, 71(3), 345–352. https://doi.org/10.1038/ejcn.2016.223
  3. Mehrang, S., Helander, E., Chieh, A., & Korhonen, I. (2016). Seasonal weight variation patterns in seven countries located in northern and southern hemispheres. Annual International Conference of the IEEE Engineering in Medicine and Biology Society. IEEE Engineering in Medicine and Biology Society. Annual International Conference, 2016, 2475–2478. https://doi.org/10.1109/EMBC.2016.7591232
  4. Fahey, M. C., Klesges, R. C., Kocak, M., Talcott, G. W., & Krukowski, R. A. (2020). Seasonal fluctuations in weight and self-weighing behavior among adults in a behavioral weight loss intervention. Eating and weight disorders : EWD, 25(4), 921–928. https://doi.org/10.1007/s40519-019-00707-7

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